Eugênio Augusto Brito
Do UOL, em São Paulo (SP) 25/07/201317h34
Do UOL, em São Paulo (SP) 25/07/201317h34
De fato, o Brasil está mudando. E não falamos aqui sobre a
consciência política (desperta ou não) da população, mas dos primeiros efeitos
do regime automotivo nacional (Inovar-Auto) que determina, entre outros pontos
ainda nebulosos, que carros feitos e vendidos no país deverão ser mais
eficientes até 2017: poluir em menor escala e consumir menos combustível.
Usar injeção direta ou sobre alimentação por turbo para
compensar a menor capacidade de motores e ampliar os ganhos é algo consagrado:
o motor 1.4 turbo usado pelo Audi A1 (compacto que pode ter preços batendo nos
R$ 100 mil) é capaz de fazer quase 20 km/l de gasolina. Na Europa, a nova
geração do Golf tem uma de sua opções, com motor a diesel, prometendo rodar
mais de 30 km para cada litro de combustível gasto. Mas falar de carros no
Brasil implica abordar modelos compactos, com menor grau de requinte. Um dia
chegaremos lá, mas a busca por maior eficiência tem de ser simplificada, sem
perder o objetivo: odownsizing popular tira o tradicional 4-cilindros em linha,
para entrada em cena do 3-cilindros. Bloco de alumínio, componentes plásticos e
comandos variáveis ajudam a ser menor, mais leve e menos ruidoso.
Há também a determinante lei do mercado e de sua engrenagem
maior: a concorrência. Marcas grandes já tinham seus projetos de motores
menores em desenvolvimento há algum tempo, mas nenhuma se dispôs a se
"indispor" com o público. No Brasil conservador, ser menor ainda é
ser menos: o brasileiro compra carro por número e quer potência. No fim, as
ousadas coreanas quebraram o ciclo com seus pequenos Kia Picanto (1.0 de 77/80
cavalos com gasolina/etanol, lançado no final de 2011) e Hyundai HB20 (com o
mesmo motor nas versões iniciais).
SIM, É O MOTOR DO UP. COMO ANDA O 3-CILINDROS
Primeiro é preciso deixar o preconceito guardado num canto
qualquer da garagem -- ou da concessionária -- antes de se acelerar um 1.0
3-cilindros. Não adianta buscar o DKW do tio-avô na memória, lembrar de moto
2-cilindros... nada disso corresponde à realidade e você só vai estar rindo
(sozinho) de suas limitações. Também não adianta fingir ter bola de cristal e
dizer se o motor será bem sucedido ao longo de sua vida útil, algo que só o
tempo dirá e não este teste curto. O certo é que, assim como Picanto e HB20, o
Fox Bluemotion tem um motor atual, estável e por isso anda tranquilo, sem
pular, nem sacolejar; e sem encher o ambiente de fumaça preta ou coisa
semelhante.
Seguindo todas, e com gasolina no tanque (combustível cedido
pela marca para o teste), conseguimos encerrar a semana (cerca de 300 km) com a
melhor média de consumo na casa dos 20 km/l. A média é bem melhor àquela
indicada pela própria Volks em seus números oficiais (repassados ao Inmetro),
mostrando que dosar o pé (sem cortar no uso de ar condicionado e outros mimos,
por exemplo) é a saída.
Porteira aberta, é a vez das
gigantes pisarem neste novo território. A primeira é a Volkswagen, que lançou
seu motor 1.0 de três cilindros há exatamente um mês. Mas com toda prudência do
mundo: na Europa, o menor motor da família EA-211 (essa mesma linha inclui
ainda os motores de Audi A1 e Golf citados acima) roda há pelo menos uma
temporada no pequenino Up (que UOL Carros já testou). Por aqui, após ensiná-lo
a usar também etanol, os alemães acharam melhor colocá-lo num "período de
experiência" a bordo de um carro já conhecido pelo público, o altinho Fox.
O Up brasileiro vem mais tarde, este ano ainda.
Chamado pela marca de Fox
Bluemotion 2014, o Fox 3-cilindros tem detalhes já conhecidos: preço inicial de
R$ 32.590 na carroceria de duas portas (mais caro que o Fox 1.0 4-cilindros,
que parte de R$ 31.840), potência de 75/82 cv e 9,7/10,4 kgfm de torque para
gasolina/etanol -- veja mais detalhes sobre o carro em nosso texto de lançamento.
Mas resta a dúvida sobre como ele se comporta.
Mas como os rivais, é um carro
para pessoas com pouca demanda por espaço, maior disposição em economizar e
menos vontade de pisar fundo. Suavidade de estilo se estende ao ruído
percebido, menor até do que a bordo do HB20 e, principalmente, do Picanto. O
que demonstra um melhor trabalho da Volkswagen no isolamento do habitáculo de
motor e da cabine do Fox.
Claro, tudo depende da forma de
condução. O Fox Bluemotion e seu motor menor pressupõem um uso mais tranquilo,
dentro do ambiente urbano, com mais trocas de marchas e melhor aproveitamento
dos giros do motor. Na estrada, é necessário escolher entre ritmo comedido (com
máximas de 90/100 km/h) ou marchas mais baixas e giros mais altos, na casa de
4.000 rpm (e nem assim o ruído incomoda).
Como a troca de marchas tem papel
fundamental no desempenho deste tipo de carro, é de se elogiar o uso do já
conhecido câmbio da Volks, com seus engates precisos, vantagem inegável sobre a
concorrência. Mas a mão da empresa alemã também pesa no restante da cabine e
você verá o mesmo visual engessado de sempre -- só a cor do tecido dos bancos
muda (para combinar com o "movimento azul" do nome).
Há também a chatice já anacrônica
dos pacotes de itens opcionais. Você quer um carro bacana, mas acaba tendo de
lidar com um quebra-cabeças. Vamos tentar? Quatro portas, luzes de neblina,
máscara negra nos faróis, retrovisores e vidros elétricos, sistema de som
bacana e sensor de ré para evitar aquelas batidinhas chatas nas vagas diminutas.
Felizmente (por força da lei) airbag duplo frontal e freios com ABS são itens
de série, garantindo pelo menos a segurança, já que todos os outros componentes
citados são pagos por fora em diferentes kits. Para encurtar a história, o Fox
Bluemontion azul Boreal testado por UOL Carros e que participa das fotos desta
reportagem custaria 32% mais caro que o modelo básico: R$ 43.013.
Nesta farra de cifrões, entra até
um item que deveria ser padrão da série "eco-certa" da Volks, como já
dissemos no teste do Gol Bluemotion: o computador de bordo com sistema I-Trend
Bluemotion (R$ 1.883 junto com som, itens de estilo e volante multifuncional)
dá dicas no painel para que o motorista dirija com mais eficiência.
QUANTO FAZ
Também superou nossa marca com o
Gol Bluemotion (13 km/l na cidade, 18,5 km/l na estrada com seu motor
"comum"). E, comparando com o HB20 1.0 também foi melhor: nossa
abordagem mais favorável com o modelo da Hyundai nos levou um pouco além dos 12
km/l de gasolina.
Mas usamos o termo
"melhor" aqui por não ter sido a única média encontrada. É que o
computador de bordo do Fox zera o cálculo a cada partida. Falha menor de um
projeto que ainda vai fazer mudar gente rever conceitos.
UM DE QUATRO, DOIS DE TRÊS
20km? Ah tá!
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