segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Volks Acelera

A fabricante alemã assume a liderança mundial nas vendas de veículos, graças a um plano de longo prazo bem traçado – e também aos problemas da concorrência.


        O seleto clube das montadoras campeãs mundiais em vendas está prestes a ganhar um novo sócio – apenas o quarto desde que Henry Ford lançou o modelo T, há 103 anos. Ao fim de 2011, ninguém terá vendido mais carros do que a alemã Volkswagen (7,8 milhões de unidades), à frente da japonesa Toyota, que liderava desde 2007, e da americana General Motors (GM). A ascensão premia o grupo que melhor resistiu à crise econômica, principalmente por sua estratégia certeira de investir no mercado chinês há mais de 25 anos. A fabricante controla ao todo nove marcas, de carros de luxo (Audi e Bentley) a ultraesportivos (Lamborghini) e caminhões (Scania). Uma lista que deve incluir em breve a legendária Porsche. A liderança antecipa em sete anos um plano ambicioso, revelado em 2008, para tornar a Volks uma referência em qualidade e satisfação do consumidor até 2018.
    A conquista foi antecipada com a crise de 2008 e 2009. Enquanto a GM e Toyota sofreram com a recessão na economia americana, a Volks colheu frutos de seus investimentos nos emergentes (neste ano, pela primeira vez, a venda de carros nesses mercados vai superar o total comercializado nos países desenvolvidos, segundo a consultoria PwC). Na China, que se tornou o maior mercado automotivo do mundo, as vendas da alemão dobraram, entre 2008 e 2010, para 2 milhões de veículos. Ao mesmo tempo, a empresa voltou a investir nos Estados Unidos, abrindo uma fábrica no país depois de duas décadas fora. A escolha do estado do Tennessee não se deu por acaso. Sem ter de negociar com sindicatos fortes, ela pode operar com um custo de mão de obra que equivale a 65% do que é gasto por Ford, GM e Toyota em suas fábricas no país. O episódio ajuda a entender por que a montadora obteve o maior lucro do setor  no ano passado. “Na Volks, modelos diferentes podem ser montados em plataformas comuns, como Audi A3 e o Golf. Isso proporciona economia de escala.”, diz Fábio Takaki, da consultoria Booz & Company.
    Enquanto isso, as principais concorrentes lutam para se reestruturar. A Toyota, que busca recuperar parte da credibilidade perdida com a série de falhas mecânicas reveladas nos últimos anos, teve de reduzir a produção após o terremoto e o tsunami que atingiram o Japão em março. Já a GM ainda se ajusta para se tornar mais competitiva depois de sair da concordata – ela só evitou a quebra em 2009 graças ao socorro do governo. Em setembro, a montadora acertou com o principal sindicato americano um novo contrato trabalhista, que lhe permitirá aumentar em apenas 1% ao ano suas despesas com salários e benefícios até 2013. As duas são seguidas cada vez mais de perto pela franco-nipônica Renault-Nissan e também pela sul-coreana Hyundai, cujas as vendas mundiais aumentaram 38% em cinco anos.
    No Brasil, a Volks disputa a liderança do mercado com a italiana Fiat. Para atender ao aumento da demanda, o grupo alemão estuda a construção de mais uma fábrica no país – existem cinco atualmente. Especula-se que a nova unidade produzirá o seu futuro modelo Up!, aposta mundial da montadora no segmento de compactos. Uma espécie de sucessor do Fusca, carro popular que projetou a marca alemã mundialmente.



Fonte: Revista Veja - 02/11/2011